sábado, 18 de junho de 2011

Quando tudo se converte em escuridão




E ele me olhou nos olhos

- Você esta diferente – ele disse.

- Diferente como?

- Sei lá, nem quer fazer massagem em mim... – ridículo...

- Porque eu faria? Sabe muito bem que não faz mais sentido. – ele riu sinicamente.

E ele foi chegando lentamente ate que já não me restava mais nenhuma saída a não ser ceder a seus cruéis encantos, tudo aquilo que me mantinha tão próxima e ao mesmo tempo tão distante dele... E eu podia ver claramente, ele tinha razão o tempo todo, éramos mesmo muito diferentes.

- Porque você esta fazendo isso comigo? – eu perguntei com notável tom de frustração.

- Fazendo o que?

- Você gosta de mim? – ele silenciou-se por alguns instantes com a feição de quem estaria pensando “Será de que devo dizer?”

- Gosto.

- Então... Porque não me deixa em paz? Você sabe que nossos objetivos são completamente diferentes, o que um espera do outro... Sabe que o que eu espero de você, você jamais poderá me oferecer.

- Talvez eu possa, algum dia.

- Ah é? E qual é o nome desse dia? Nunca? – ele sorriu e me deu um longo e intenso beijo.

- Um dia do mês. – ele respondeu enquanto ria ainda mais.

Eu aproximei meu rosto do dele quase tocando seus lábios com os meus, mas sem tocá-los de fato.

- Porque você não consegue me deixar? – perguntei.

- E porque você não fica longe de mim? – ele contestou.

- Porque eu não consigo.

- Eu também não.

E inevitavelmente, nos beijamos.

Já havia muito tempo que tínhamos descoberto que não daríamos certo juntos, mas eu não sei por que algo mais forte do que nós mesmos nunca permitia que nos distanciássemos por muito tempo, mesmo que tentássemos incessavelmente.

Amávamos um ao outro, isso era fato. Mas por todas as misteriosas feridas que o tempo parecia ter causado a ele, ele não conseguia se envolver por muito tempo com alguém, independente da importância que a pessoa representasse em sua vida ou do quão difícil fosse arrancá-la dela. E foi assim comigo.

Em todas as vezes que ele me deixou “para sempre” eu sofri como quem sofre a dor da morte, mas com o tempo fui aprendendo que esse tal “para sempre” nunca duraria muito alem de um mês, mas ainda assim doía. O mais doloroso era não compreender porque eu continuava a amar um homem que permanecia o tempo todo tentando me arrancar de sua vida como tenta se livrar de uma praga avassaladora. Eu o queria para minha vida, mas ele não tinha o mesmo desejo.

Naquela noite ele me olhou com outros olhos mais uma vez, passados mais de quarenta dias durante os quais ele parecia nem sequer lembrar-se de minha existência, ele me olhou com ternura novamente, e eu fiquei em duvida se o que sentia naquele momento era mais raiva ou amor. Ele se aproximou e como era de se esperar, embora eu tenha tentado incansavelmente, não consegui resistir a seus cruéis encantos.

Quando tudo passou veio novamente a tempestade, em um turbilhão de arrependimentos – não poderia ter permitido que ele tocasse em mim novamente! Isso só faz prolongar a minha dor... -. Eu acho que ele jamais vai sair da minha vida, mas não penso nisso de uma forma positiva. Imagino um futuro onde me vejo casada e o vejo sempre por perto, como um amigo inocente me “aterrorizando” a cada distração do meu marido. E sempre me fazendo desistir das pessoas que – sabe-se lá porque – “resolvem” me amar, só para ficar com ele, que me deixa em seguida. E eu consigo imaginar ainda uma vida triste, uma existência vazia, em que eu nunca terei nada porque continuaria sempre querendo tê-lo... E abandonando tudo em prol desse objetivo insensato. Não é o que quero para mim.

Bom, às vezes me recordo de todas as coisas que já vivi ao lado dele, boas ou ruins, e percebo que embora eu tenha crescido tanto ao lado dele e embora ele tenha sido um dos grandes responsáveis por eu ter alcançado a maioria das coisas que tenho de mais importantes em minha vida atualmente, ainda assim, as recordações dolorosas sempre permanecem incrivelmente vivas em minha memória. De fato não existe outra saída a não ser apagá-lo totalmente da minha vida.

“Somos muito diferentes.”

“Jamais daríamos certo.”

“Se nos separarmos, embora não pareça, será muito melhor para nós dois.”

“Nós pensamos diferente.”

Ele tinha razão o tempo todo. Bem, agora que acredito nisso, como faço ele voltar a acreditar?

Nenhum comentário:

Postar um comentário